vinteesete

04 março, 2008

quatro de março de dois mil e oito - tabuazeiro

Que rio de vento foi aquele? Na correnteza leve daquela rua cheia de vazios eu me deixei ir tarde afora. Era um dia desses que nada me esperava e eu precisava de tudo. Um desses dias que, quisesse eu ou não, terminaria sem me acrescentar nada. Eu não veria ninguém. Ninguém me esperava. Ilustrando isso tudo, a rua estava completamente sem passantes. As casas todas fechadas. Nenhum carro. Nem mesmo um rato sujo. Sabendo que teria que engolir tudo, melhor, nada desse dia, apenas fui andando. No fim da rua só havia o fim da rua. Eu teria que voltar se quisesse continuar indo. Mas voltar só iria doer mais. Eu fugia do peso que minha cabeça me impunha. Fugia da inércia que me azedava, da letargia seca que me prendia a um ninho fétido e que enchia minha boca de fumo. Fugia como se fugir fosse um esporte que me tiraria de mim. Naquele rio de vento, nos minutos que ele passou, eu me deixei levar. E iria onde ele fosse. Mas ele também não foi a lugar nenhum. Parou do nada. Eu também quis parar. Quis deitar-me naquele fim de vento, naquele fim de rua, naquele fim de tarde. Mas voltei. A rua sem vento era ainda mais fria. Um desespero gigantesco explodiu em mim e eu quis a morte. Não era a primeira vez e por saber que não seria a última eu a quis com mais força ainda. Mas e se a morte fosse só mais um rio de vento que me levaria a outro fim de rua? Engoli seco o desespero, a rua, o dia, eu mesmo e voltei. Sem nenhuma vontade de chegar, voltei.

1 Comentários:

  • Às sexta-feira, 04 abril, 2008 , Blogger Priscila Milanez disse...

    Gostei muito da tua escrita, rapaz. Destaque para esse texto.Carrega densidade e certa leveza. O que poucas vezes se pode encontrar num mesmo texto. Aqueles que conseguem dosar ambos num só texto, parecem compor uma harmonia carregada de notas dissonântes. Gosto muito disso.

     

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