vinteesete

04 setembro, 2008

pasto, quatro de setembro de dois mil e oito

Fantasmas ruflavam suas sombras ao longo do caminho em que eu andava perdido depois de uma noite gasta. Os galhos tortuosos das árvores desfolhadas camuflavam suas silhuetas com o balanço das ondas do vento. Um bando de animais se agitava com toda aquela presença na boca da manhã. Eu respirava o frio do dia novo que chegava nos primeiros sinais de vermelhidão no longe dos campos. Na minha cabeça uma revoada de alucinações vivas que a noite insistia que eu carregasse me azucrinava como um bando de insetos. E para espantá-los eu compunha respostas absurdas para todas essas questões sem respostas que carrega a gente vida abaixo. Mas as respostas multiplicavam as perguntas e a revoada só crescia ao meu redor e sem pensar outra vez parei. Procurei um lugar para sentar e parei. Antes que tudo tirasse minha cabeça do lugar outra vez, parei. Sentado numa pedra escura, soprei forte, balancei as pernas e fitei o chão por algum tempo, como se realmente estivesse procurando o chão. Mas o que achei foi um resto de fumo dentro de uma caixa de fósforos que me espetava em um dos bolsos. Esfarelei todo ele na palma da mão e com a outra procurei por um pedacinho de papel qualquer perdido nos outros bolsos. Não havia nada. Olhei ao redor, nada. Andei um pouco olhando pelo chão. Nada. Com peito apertado e disposto a voltar à caminhada, vi um milharal recém trabalhado. E num pedaço de palha enrolei meu fumo já um tanto suado mas ainda mais cheiroso. Nas lufadas da fumaça que subia, o ranço ia sendo lavado. As perguntas, agora, eram piadas leves e gentis. Os animais cantavam. Os pássaros carregavam os fantasmas contra o sol que chegava mais uma vez sobre tudo como um grande curioso que não queria perder nada também.

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