vinteesete

11 novembro, 2008

O estranho lado do comum passando

No sossego dos dias úteis
Na calma das pernas frias
No corpo doce
Na cama
Assustado com o tempo que a vida acumula nas nossas costas
Com as grossas horas de rancor inútil
Com o amor domesticado dos animais mansos
Bobo
Levando as mãos ao corpo ao lado
Riscando os dedos na pele branca
Pedindo sexo
Sonhando com a leveza do corpo farto
Com o gesto feito
E sonhando com sonhos maiores
Honrados
Querendo aflito o impossível das coisas
Querendo quieto
Assistindo o balé dos falsos com alegria gostosa e gritando em coro:
Vai cair
Vai dançar
Vai sumir
Vai mudar
Sabendo deixar passar o possível
O comum
Deixando de lado o pouco
Querendo apressado nos lentos movimentos das horas
Encantado com a espera
E todos os suspiros da tensão
E os crispados olhos crentes
O alívio da saudade
A certeza de voltar ao melhor lugar a cada volta
E de se perder a cada curva
Saber estar perdido quando o novo se fizer maior
Quando tudo for estranho
Permitir a invasão do estranho
Ficar tonto em meio ao estranho
Até querer o estranho
E me deixar estranho
Sem saber o que fazer
E fazer muito
Gastar
Gastar o estranho até que ele venha ao comum
Então
Deixa-lo passar também

3 Comentários:

  • Às quarta-feira, 12 novembro, 2008 , Blogger rodson disse...

    Quando li esse texto (o desespero da linha reta tb provocou um pouco isso)... mas esse aqui (que não pude conter o comentário), quando terminei de ler, respirei, mas respirei daquele jeito quando a gente mergulha ao fundo de uma piscina e vai subindo devagar, olhando pra cima, vendo a luz e as coisas distorcidas lá fora, até que se percebe que o ar vai acabando, e vc decide que é hora de subir, aí vc começa a apressar um pouco o ritmo da subida e olha pra cima e a superfície ainda falta e apressa um pouco mais, pois o ar já acabou e vc percebe que calculou errado o tempo/oxigênio, aí quando consegue ver a linha que separa o fim do mergulho e a aflição... pára de bater os pés, deixa o corpo subir sozinho, pra aproveitar o resto do desejo mórbido de saber o seu limite, até o momento em que a ponta do nariz alcança a superfície e se consegue respirar, junto com a sensação de alívio entorpecida pela adrenalina da situação, que ao mesmo tempo te fez sentir o medo e o prazer... foi essa a sensação que senti quando terminei de ler a última frase..

     
  • Às sexta-feira, 28 novembro, 2008 , Blogger Gabriela disse...

    Incrível!

     
  • Às terça-feira, 25 agosto, 2009 , Blogger Priscila Milanez disse...

    gosto.

     

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