vinteesete

31 julho, 2005

Vinte e nove de abril de dois mil e cinco, casa alta

Talvez, hoje, eu consiga uma puta. E como estarei bêbado, não vai ser difícil ver nela a modelo francesa que eu tanto sonho: semi-nua, maquiagem, roupas e acessórios com cor de outono, pele branca e aparentemente fria, cabelos vermelhos, alta, firme... Confesso que olharei espantado para a cara dela pensando ser a sonhada modelo. Ela rirá do meu inexplicável pavor. Eu ficarei muito mais assustado. E ela numa crise de auto-confiança me atacará com a fúria de uma puta francesa. Meu delírio a fará ainda mais perfeita que a modelo. E quando gozar, agradecerei a todos os senhores franceses que deixaram o tempo passar enquanto sonhavam, e se viram pobres com suas filhas nas ruas, perfumadas, com seus cabelos vermelhos, inspirando bêbados brasileiros com suas putas feias.


os suicidas - trecho

Estou sendo atraído pela mesma força que leva os insetos contra o fogo das velas, ou seria a mesma ignorância?, talvez o mesmo desespero, não sei. Só não consigo fugir do prazer que este calor me traz. E a necessidade de aumentá-lo me faz correr ensandecido ao seu encontro quase que inevitável. Será que todo prazer traz em si um pouco de morte? Estaria no fim dos gozos o perpetuar de todo deleite? Se não, o que sustenta o se deixar levar por estranhas vias que nunca apresentam um fim? Que em cada curva se desdobra em novos campos cada vez mais desconhecidos e saborosos!??? E haveria uma última curva? Um último campo? Mesmo tendo cada dia sua porção de conforto e cada instante sua promessa de prosperidade; mesmo querendo ir, levado pela poesia que se desenterra da poeira que se ergue na labuta; mesmo sabendo que as boas horas virão como um arrebol que não tarda, ainda assim persiste essa vontade de infinitar.