vinteesete

13 julho, 2008

à margem, para marlon ferreira da silva, oito de julho de dois mil e oito

Os piores pesadelos são os que me acontecem ao meio-dia, dos outros eu sempre acordo. Mas sob o sol do meio-dia, o mundo rosna sobre mim de um jeito que parece que quer me ver latindo. A vida fica feia. As ruas, desconfortáveis. E quando penso em fugir, me lembro da margem. Do lado da vida que está sempre fugindo. Do lado que vive longe. Enquanto cheia da febre do sol, minha vontade delira uma vida carregada de pequenos confortos. De prazeres vagabundos e baratos. Uma vida onde tudo fosse fácil. Como a dos donos de boteco. Bêbados todos os dia. Sentados numa soleira qualquer, esperando o sol esfriar. Enquanto o mundo sonha com inclusão, lutando para se sentir mais dentro, eu ando para o outro lado. Eu vou com as putas, contra os padres e os irmãos. Eu vou com os que desacreditam, mas ainda sonham. Com os que vivem morrendo. No meio-dia de todo o dia eu sonho contra o funcionalismo. Com a desconstrução da máquina. Com o delírio na ponta da língua e as formas fugindo. Eu sonho uma bomba ruindo as pessoas por dentro e elas correndo desesperadas para onde sempre quiseram estar. E a máquina desconsertada rangendo alto, "Isso é um absurdo! Como assim, pessoas correndo para fora? A segurança é algo que se conquista com disciplina! Como assim, homens bêbados ao meio-dia? Isso não passa de poesia!".