vinteesete

29 fevereiro, 2008

making of do feliz cinco - vinte e oito de fevereiro de dois mil e oito

Há um tremor passeando dentro de cada corpo. Hás dias demais de muito mais tremor pela frente. Lá na frente, talvez, a calmaria nos mantém onde já deveria ser passado. As plantas avançam sobre a casa. O verde, florindo e morrendo e florindo, corre crescendo ao nosso encontro. Cada folha, cada galho, encontra seu canto e ali deita. A casa se aninha no verde e respira. Nosso tremor cospe seu ar sujo contra as plantas e elas devolvem em frescor. Na varanda, um broto de folha escuta ao longe um ruído de música. Amanhã , quando o sol voltar, a música ainda estará lá. E o nosso tremor dará as boas vindas à nova folha, dando-lhe o ar podre que ela tanto gosta.

27 fevereiro, 2008

os ventos do largo

Desconcentrado, quando voltei do nada vi, como chovia e era tarde afinal. Eu que deixava um livro ruim que me mandava ser melhor com quem nunca me quis bem. Mas eu não ia pra ficar. Era agosto ainda no dia um. Eu tinha medo do desgosto e do mal. Sempre querendo evitar alguém de querer seguir só, indo por onde não voltará. Mas sem cuidar, eu sei de mim.

a melodia bonny dundee

Quem ficou? Eu acho que os dois: esperando um outro dia arrefecer. Quem sofreu? Eu acho que ninguém: você vem quando quer e eu te quero se mesmo não vem. Eu não tenho o frescor de quem se banha em mar, mas venha que eu posso te deixar mais leve, você pode até gritar. Amanhã? Eu acho que vou duvidar: você podia parar de uma vez em mim. Eu não tenho o frescor de quem se banha em mar, mas venha que eu posso te deixar mais leve, você pode até gritar. Quer saber? Eu acho que vou aprender a pintar, talvez amanhã.

déruchette

Parei de ser só eu, meu bem. E você vai sem mesmo saber o quanto vai passar desse mundo que nos dói. Eu procurei ficar mais perto do lugar que é você. Foi como ver que perto de um fim, ou mesmo um final, nada vai morrer. Como os lares querem par. Venha e não quererá que eu passe outra vez.

as perfeições do desastre

Quem diria, nosso amor estampado nos jornais! Mais um dia após a guerra e um outro dia além. E se chorou saudade ao telefone, foi um erro. Mas há de ser melhor. Sem outra vida, bastaria, estar a dois sob o céu e só.

07 fevereiro, 2008

sete de favereiro de dois mil e oito - tabuazeiro

Eu lambia o corpo dela com os olhos parados. Delirava absurdos e me sentia muito perto do lugar perfeito. O lugar onde eu não era mais nada, além do que minha língua sabia me dar de prazer. E era mesmo o prazer que me havia levado até ali. Prazer este que poucas vezes na vida me deixou encontrá-lo. Que já me arrastou por todas as lamas fúteis e tantas horas me deixou perdido. Até nos firmes e fáceis traços de concreto do longo asfalto. Nas manhãs silenciosas e enormes. Na mesa farta e bem posta de minha mãe. Deixou-me suspenso e sôfrego que até ali, na pele branca e doce das coxas dela eu me fartasse. Agora eu lambia com calma todo aquele tanto de prazer. Era meu e só meu. Pois só minha língua lhe falava direto ao coração, só eu sabia as palavras para lhe fazer tremer e gritar e quase morrer. E lá, entre suas pernas, deixei para sempre minha cabeça. Perdi as dúvidas, os asfaltos retos, as manhãs sem um bom tempo, a mesa besta... E é para lá que estou sempre voltando toda vez que vou, mesmo sem saber onde.