vinteesete

07 agosto, 2008

Eu, minha mãe, Deus e o macaco, sete de agosto de dois mil e oito

Ei mãe,


Feliz aniversário. Ou pelo menos deveria ser. Afinal, a senhora me tem como filho. O Macaco sempre diz que Deus deve rir muito quando está escolhendo quem será família de quem. Acredito que na nossa hora Ele riu muito; ou ainda deve estar rindo. Nós provavelmente somos um espetáculo de vida aos olhos Dele. Antagonistas de um romance longo e cruel que Ele vai escrevendo devagarinho. Eu tento ser natural, te juro, eu só quero me sentir bem no final. Só quero seguir minha vontade e dormir satisfeito toda noite. Não suporto dias inúteis, horas vazias, confrontos medíocres... E parece que agindo assim tenho sido exatamente o oposto de tudo que sonhou para mim, enfim. Ainda estando muito além das margens temidas, te vi dançando ao longe numa dessas minhas noites , e outra vez me lembrei de ouvir o Macaco contando rindo que alguém falou para ele a seguinte frase, ou mais ou menos assim: “estou sempre buscando a elevação espiritual, mas o rock ontem foi do caralho!”. Não sei o que o aconteceu mãe, mas desde muito cedo eu já ria com Deus. Nunca achei que Ele fosse me machucar. Não foi uma nem duas vezes que eu gritei no meio da noite por qualquer coisa que viesse Dele contra mim e nada. A vida continuava na mesma bonança. Como tem sido e sempre será. Mesmo que Deus seja só um conceito. Mesmo que não. Mesmo que Ele nos espreite sempre. Então lá estará Ele rindo e eu e você e o Macaco. E só eu poderia te dizer isso, acredito. No fim, todo esse meu desconforto é carinho. Alguma coisa me diz que estamos sozinhos; estamos sempre trancados em nós mesmos observando o que o nosso corpo sente e sempre querendo que o corpo sinta mais, por isso a senhora dançou. É isso que a vida é. Por isso estou sempre indo. E pensando nisso tudo, te vendo no auge de sua vida, que eu digo que pelo menos deveria ser feliz.