vinteesete

26 julho, 2007

vinte e seis de julho de dois mil e sete - tabuazeiro - vitória

É trabalho também. Sou eu sentado à máquina às nove da manhã. De uma manhã de vento sul que melhor mesmo seria ficar na cama morna. Mas não fico bem com tanta calma assim. Meu corpo me chuta; dá coices feito cavalo. Exige que eu saia correndo, que eu suje todos os minutos, que eu não deixe nenhum tempo passar em branco. E se deixo, ele dói. Como quem apanhou. Talvez meu corpo seja um desses animais sensíveis e ativos. Um tipo de cachorro que quase morre se não brinca. Desses que mata o dono de cansaço.

12 julho, 2007

vinte e um de janeiro de dois mil e sete - praia da costa

É que a vida, por si só, não chegará ao fim. Sempre fará seu outro passo. Sempre inventará um monte de pequenas arrumações e deixará o tempo fazer arte enquanto ela ri e se refaz. Como sempre e nunca correndo em círculos como dois animais antagônicos, driblando o diabo da ferrugem e do pútrido torpor da preguiça. É que a vida, por si só, corre. E não há corpo que a pare. Não há dor que a canse. Como água forte que arrasta tudo até ser mar. Vai na frente, sem te contar onde está indo. E te faz tão rio quanto ela. Sendo ela a água e você a força que a impede de adentrar nas pedras. Ela, por si só, vai. Em tudo também. No vago, nas paragens desertas, no pandemônio turvo do passado. E seja lá o que for existir, sem ela, nada.


vinte e um de janeiro de dois mil e sete - praia da costa

O que será que o homem perde dentro de si que o traga como um buraco para o lado mais escuro de si mesmo? O que é que se perde? O que se passa? Horas e horas bebidas por esse ralo íntimo; dias inteiros de olhos no nada, voltados para dentro, boiando numa piscina interna, olhando a massa de água que o separa do fundo. A vontade morta, encolhida em seu sono mal dormido. Mas nada de silêncio, de frescor ou coisa que o valha. Só essa falha nas bases tragando tudo. Trazendo para baixo o mundo que antes pairava. Mas antes quando? Quem se lembra? Quem se lembra de quando teve, pela última vez, os pés no chão?


03 julho, 2007

três de julho de dois mil e sete - joana d´arc - vitória

É minha mulher sentando nua no meu peito, a vida que mais gosto. O silêncio pasmo depois do amor absurdo. O barulho seco dos gemidos mudos. A carne fraca. O corpo surdo. É ela se olhando em mim e se vendo feita. A mulher perfeita em seus dias de cão. A dor de excesso de desejo farto. A vontade curada. As bocas cheias. O tanto de tato. É a melhor vida o dia mais ela. O dia mais cama. O mais nós dois. É o que da vida mais quero. O que não largo. O que me ganha. É o dia que mais gosto. O dia dela. O dia sexo.