vinteesete

02 agosto, 2005

os suicidas - trecho#2

Sempre que se encontra no seu apogeu, a noite insiste em nos dizer que algo de extraordinário se revelará no próximo ato. E como espectadores ávidos que somos, nos mantemos presos ao seu desenrolar místico a nos iludir como crianças. E as horas desaparecem nos relógios esquecidos, como a neblina no rio sujo que a devora, querendo com infinita sede ver-se redivivo. Mas nada além de nós mesmos acontece, nada de espetacular se revela, nada. Cada minuto passado se torna um tormento a nos impulsionar para o próximo: um verdadeiro jogo de contar pulsares, uma inútil e dispendiosa jogatina a varrer as cores dos nossos cabelos, tudo em nome do prazer, tudo pelo minuto não sofrível, tudo pelo gozar, mesmo que em estupidez.


Vinte e quatro de junho de dois mil e quatro, duas e dez a.m., casa alta, vitória

Enquanto o fumo fazia efeito e o desprazer se esvaia, horas inteiras eram vistas sobre os varais. E neste tempo de estranheza atemporal, quase que deitando assombro, alegria não cabia. Mas no efeito... tanto conforto... era um lugar além da euforia da vida comum! Alegria não.