cinco de julho de dois mil e seis, leblon,rio
Só o que se percebia era a música baixinha abafando o som dos insetos e a pouca luz de uma lâmpada fraca dessas de decoração. Chovia nas árvores do quintal e trazia o vento muito frio. Todo o barro e a madeira e os quadros e os jarros e as plantas, cintilavam um laranja escuro muito longe dos azuis e cobres do fim da tarde. Na grama, o escuro azul das nuvens passeava como um rio. Tudo em volta era a tarde que imperava com seus tons soturnos, menos a sala e sua pouca luz cheia de insetos. Cheia de frio e de bebidas para o frio. Todas queimando a boca quando sorvidas. E a música sutil se tornando mais forte e clara, denunciando o conforto de qualquer tempo e lugar. Era impossível não se sentir alheio de todo e qualquer tipo de responsabilidade. Vagar em si mesmo em lugares antigos, outros quartos, outras vias... tudo que passeava pela sala se passava em movimento igual dentro dos devaneios da memória: o ruflar das borboletas, o barulho dos insetos contra a parede, a goteira perto do sofá. Tudo misturado aos suspiros e aos calafrios e todo esboço de emoções íntimas e soturnas como a tarde. Tudo sobre um lençol branco e limpo. Cercado de calor de lâmpada e revoada de insetos...
j. gauche
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