e descanse em paz, vinte e um de setembro de dois mil e oito
Quando tudo repousa no macio, a desgraça se alegra. Assim como em qualquer descanso ou cuidado de não se deixar ao sabor dos acontecimentos. Toda calma é um câncer morno. É um lago de sangue doce que draga o sabor da vida e leva o homem ao canto mais bem guardado de seu vazio. Quando a vida fica fácil e se comporta sempre como nos dias mortos de domingo e ri moderadamente ou chora sem tristeza, nada nela há de importar nem agredir, nem nada que valha ser notado ou bem quisto, nada. Uma vida tranquila é uma vida doente, sem saúde, sem força, não vale nada. Uma alma que reza todos os dias pedindo paz é uma alma fraca, medrosa, pequena. No que é que a paz irá ajudar no crescimento de um homem? Que homem é esse que sonha com céus azuis e pombas brancas (estas sim, em guerra certa contra a queda e os ventos fortes) e dias cheios de pessoas se abraçando e rindo e não fazendo nada a favor da força da vida? Que homem é esse que não quer o risco e as tormentas que precedem as conquistas? Que se diz cristão mas nega suas gotas de sangue vivo? Se quer paz, morra! Morra antes que a vida te humilhe a não ouvir tais preces tacanhas, a não poupar o corpo das tantas pancadas, a não permitir que se deite neste campo de batalha que só quer homens fortes e de vontade. Não, o suicídio de um homem fraco não é pecado, é um favor a todos os outros. Deus entenderá e guardará tal alma na lama da paz. A deixará eternamente envolta de todo esse nada que é a paz, a manterá sempre quieta e guardada longe de tudo que quer lutar, enfim, para esta pobre alma não há de ser o inferno.