vinte e sete de dezembro de dois mil e sete - tabuazeiro
Nietzsche andava sujo e absorto por uma rua suja e fétida dentro da minha cabeça. A paisagem dele, cheia de cheiro de morte e sol demais e pessoas desagradáveis, era um retrato romântico da rua em que eu andava. Mas, no entanto, era na rua dele que eu me concentrava. A cabeça dele estava imobilizada por um tipo de choque. Podia-se ver na cara dele o riso satânico que, às vezes, a inteligência nos estampa. Talvez, sonhando com o futuro, ele estivesse concentrado na rua em que eu andava. E ria do fato de que o homem nunca mudaria. Ria dos homens bêbados e preguiçosos nas sombras ao longo das calçadas, das mulheres tentando esconder seus defeitos ridículos, enfim, ria de tudo isso que nunca muda e vai levando o mundo vida afora. O sol me deixava tonto. Como quem se deixa a estragos em via pública e segue calmo e certo mesmo assim, me senti meio Jesus. E pensando Nele vagando também em minha cabeça e se deparando com Nietzsche e gostando dele e discutindo com ele e rindo com ele, vi meu rosto esboçando aquele mesmo risinho de maldade rua afora.