vinteesete

24 agosto, 2007

vinte e quatro de agosto de dois mil e sete – tabuazeiro – vitória

Estou preso à palavra cruel. A palavra que no Sérgio Sampaio foi isso tudo no fim. Isso tudo que está em todo lugar a toda hora. Isso que leva e traz e faz e desfaz. Isso é mesmo cruel. É um triturador sutil. É uma pancadaria constante. Um morde e sopra que ninguém larga. E isso também impera ao lado de Deus e do tempo. Faz rir quem fez chorar, depois chorar quem fez chorar, depois todo mundo ri. Estou preso ao prazer da palavra. Ao prazer do que nela cabe. À beleza do cruel desgaste. Desse cruel jeito de ir.

16 agosto, 2007

quinze de agosto de dois mil e sete - tabuazeiro - vitória

Tem também esses dias bons de dormir. De preparar o quarto para o sono deitar seu cansaço. De deixar a janela um pouco aberta para correr o vento. Cuidar rigorosamente de que o quarto estará limpo. E depois trancar tudo. As janelas, a persiana, a porta. Apagar as luzes e cair como num mergulho. Sem perder o corpo quente da mulher nem as histórias do dia todo. Esses dias bons. De chuva chegando longe, de gente falando baixo, de tomar sopa como carinho no estômago. Depois de quase fritá-lo na cachaça. Depois de tanto correr. Depois de tudo passado certo e bem guardado. Tem também esses dias.

07 agosto, 2007

making of do feliz três - sete de agosto de dois mil e sete - casa alta - vitória

São muitas as horas empilhadas no tempo de espera. São tantas, que cada janela da casa é visitada e observada como quadros a todo estante. Toda árvore, toda planta, até o que é transparente, ouve cada suspiro, cada vontade e também parece não respirar de tanta inquietude. É tanta espera que o tempo torna-se a figura gigantesca mais próxima da imagem de Deus: age invisível, incontestável, inapelável, contra qualquer desejo. Faz da espera pela hora certa uma reza fiel e constante. E no fim, faz o que quer. Passa por tudo em silêncio e faz seu trabalho. A hora certa, a esperada hora que tanto demora, não sai do seu lugar. Nem que eu diga ao tempo que posso morrer. Porque ele, como Deus, parece saber tudo. Guarda certas horas em seu corpo e me olha rindo por este burro querer. Quem diz que a melhor hora é agora é quem muito sabe que do tempo nada se tira. O tempo só dá o que é.

02 agosto, 2007

das letras para a sil, de canções por fazer

Ontem quando ela perguntou o que eu queria, eu quase disse que mais nada e nada mais era o que eu queria. Nem mesmo vento de temporal, nem outro copo de coca-cola ou nada assim. Ontem quando ela descansou até dormir e me deixou sozinho, o quarto, a casa, o mundo, tudo era bom. Nem precisava chover, nem carecia esfriar, nem passar na TV o que eu queria. Ontem quando ela acordou sobre o meu peito, eu não quis mais querer essas coisas de se procurar perdido ai.